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OPINIÃO

Abaixo estão alguns dos textos opinativos avaliados na disciplina de Língua Portuguesa I, ministrada pela professora Ana Paula Mira.

O desfecho da “Novela Neymar” (junho/2013)

 

      Após um longo período de negociações e assédio por parte de diversos times europeus, chegou ao final, na última segunda-feira, a “Novela Neymar”, com a assinatura de contrato que torna o jovem talento brasileiro o mais novo reforço do glorioso Barcelona de Messi.          

     No mês de junho de 2013, o Brasil cede ao futebol europeu um dos grandes talentos do futebol brasileiro dos últimos tempos, Neymar Júnior, que aos 21 anos já coleciona diversas conquistas pelo Santos Futebol Clube. Comparações com Pelé estão presentes desde o momento em que o jovem garoto pisou nos gramados para estrear no time profissional. Seria para tanto? Embora o talento do jogador seja inquestionável, algumas polêmicas já mancharam sua trajetória e ofuscaram sua habilidade em jogar futebol.

       Diversas vezes, clubes brasileiros sentiam-se prejudicados, alegando que o atleta era frequentemente privilegiado pela arbitragem, o chamado “apito amigo”. Outros, por sua vez, afirmavam que o jogador era mal educado e “exibido” ao fazer suas gracinhas nas partidas. Os zagueiros pagavam o preço, como o caso da obra de arte promovida por Neymar no jogo contra o Flamengo, desnorteando os defensores do time e fazendo o gol que algum tempo depois receberia o prêmio da FIFA de “gol mais bonito da temporada” do ano 2011.

        Neymar também ficou conhecido por sua malandragem em cavar faltas. O jogador, de estilo único para cortes de cabelo, chegou a ser apelidado de “cai-cai”, por inúmeras tentativas de simulação de faltas que, muitas vezes, acabaram favorecendo a fama de malandro do jogador.

       Agora, o atleta embarca para um novo desafio: brilhar em um clube que muitos brasileiros já fizeram história. O garoto que se criou em Santos vai defender a camisa do Barcelona, que constitui um dos mais talentosos elencos de jogadores da atualidade. No Brasil, Neymar é idolatrado por muitos. Na Europa, Neymar deixará de jogar bola para aprender a jogar o verdadeiro futebol.

 

Lei da Palmada: então vamos fazer valer (agosto/2013)

 

         Em 2010, o Poder Executivo apresentou ao Congresso Nacional o projeto de lei nº 7.672, no qual foi instalada uma Comissão Especial para analisá-lo. A “Lei da Palmada”, que é assim popularmente chamada, estabelece “o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos corporais ou de tratamento cruel ou degradante” e foi aprovada em Comissão da Câmara dos Deputados em 2011, mas ainda não foi votada em plenário.

A principal crítica efetuada por aqueles que não concordam com a lei é a intervenção do Estado em um assunto de caráter privado, como a educação dos filhos. Seria uma atitude justa? O Estado, se mostrando o Todo Poderoso, teria o direito de interferir tão profundamente na forma como os pais educam seus filhos? Trata-se de uma invasão incômoda e reprovada por muitos. Então fica a pergunta: qual será o instrumento para impor limite nos filhos?

       Se a palmada está proibida, como educar os filhos de uma forma que entendam quando estão errados? O “castigo”, de certo modo, não é tão cruel quanto os defensores desta lei pensam. A palmada sempre foi considerada uma prática arraigada em nossa cultura para a formação dos indivíduos, mostrando-se eficaz na maior parte dos casos. E não é somente o Brasil que acolheu este método histórico. Em 20 estados norte-americanos, o uso da chamada “palmatória” – artefato de madeira com uma haste e uma chapa na ponta – serve como punição corporal para estudantes indisciplinados. Isso mesmo, em pleno século XXI, a punição ocorre dentro do ambiente de ensino. Enquanto em algumas regiões dos Estados Unidos a prática ainda é aceita, no Brasil, a punição é considerada criminal desde a década de 80.

        Medidas punitivas como a da palmatória que acabei de citar, extrapolam os limites e lesam os direitos individuais, ainda mais se tratando da aplicação de corretivos por parte de professores para com seus estudantes. A “palmada” aqui tratada refere-se ao pequeno corretivo aplicado pelos pais que limita seus filhos e os fazem aprender a não repetir suas “travessuras”, o que é da natureza da criança de fazer, pois faz parte do seu processo de aprendizado. Afinal, se em alguns países é tomada como justa a atitude de professores aplicarem corretivos aos alunos, por que no Brasil os pais têm seu direito vetado? Se eles, cobertos de amor por suas crianças, não podem adotar medidas punitivas um pouco mais severas para o bem de sua prole, de que forma os filhos poderão entender a diferença entre certo e errado?  A principal crítica aqui exposta é relacionada ao diálogo ineficaz, que acarreta repetidos gestos que vão contra a educação que os pais buscam dar para suas crianças. Se a aplicação de “palmadas” passa a ser proibida, os pais deverão ser coniventes com as atitudes erradas dos filhos? Consentimento parece ser a palavra certa. E assim, o Estado vai interferindo na formação das crianças, contribuindo para a proliferação de jovens mimados que não tiveram limites impostos.

         Impor limites não significa espancar ou usar da violência desproporcional e injusta para com um ser que não consegue se defender, até porque este gesto alimenta a desunião da família e a desestrutura completamente. Violência é injustificável e não precisamos de lei nenhuma para termos consciência disso. O pai que agride seu filho gratuitamente e o faz com frequência, provavelmente guarda resquícios de um passado sofrido. Estamos nos referindo a outra vítima desse processo histórico no qual a punição física é o caminho mais fácil para a disciplina. O pai também precisa receber orientações, e é com isso que as instituições devem se preocupar. Em casos mais complexos, como violência doméstica, ao se deparar com tantos episódios de sofrimento, o filho guarda mágoas para o resto da vida e pode sofrer problemas psicológicos, como diversos estudos apontam. Tanto o agressor quanto a vítima devem receber o apoio necessário para a resolução do problema.

         Não podemos deixar que o uso sistemático de castigos corporais se dissemine de um lar para outro, de uma geração para outra. São nestas situações que o Estado tem o dever de intervir para zelar pelo bem das crianças. Não basta punir as famílias, proibindo-as de aplicar corretivos físicos em seus filhos, é preciso oferecer todos os recursos necessários para a orientação de pais e responsáveis. Esta é a única forma de garantir a diminuição da violência. Do contrário, a lei sendo somente punitiva, estabelecerá apenas mais uma relação desigual entre o poder público e as famílias.

         Devemos acreditar que “a sociedade é capaz de superar esse paradigma que estabelece a violência como parte da condição humana”, como afirmou o Sr. Clovis Boufleur na Proposição do Projeto de Lei. No entanto, simplesmente proibir que pais eduquem seus filhos da forma que julgam mais eficaz para cada situação, sem oferecer a estrutura necessária para que essa medida renda bons resultados, não parece ser a melhor solução. Para que a lei gere algum tipo de mudança eficaz na erradicação da violência doméstica, é preciso que o Estado aplique-a integralmente e não apenas constar no papel a sua existência.

 

 

 

 

A busca exagerada pelo ideal de perfeição (publicada no LONA* ed. 846, setembro/2013)

 

         É impressão minha ou a academia se tornou um dos lugares com mais pessoas fúteis por metro quadrado? Não que a atividade física seja uma futilidade, porque, de fato, não é. O Brasil hoje atinge um alto nível de sedentarismo, alcançando 80% da população brasileira - um dos níveis mais preocupantes da América Latina – segundo uma pesquisa realizada pelo IBGE. Definitivamente, ir para a academia não significa ser fútil, pois só tende a trazer benefícios para o indivíduo. O problema se concentra no comportamento de muitas pessoas que frequentam o local.

         Inúmeras vezes, fica difícil distinguir a academia de um desfile de moda. Mesmo sabendo que vão suar, ficar descabeladas, algumas mulheres insistentemente se produzem. Uma maquiagem aqui, outra ali. Não importa se não dá para respirar direito, mas é válido usar aquele macacão coladinho, não é mesmo? É como se aquela sala de exercício físico fosse a vitrine da esperança para as encalhadas. O ambiente descolado da academia se tornou o novo ponto de encontro dos amigos, o “banheiro” da fofoca feminina. A palavra “academia” só não entra no trending topics do Twitter todos os dias porque ainda tem muita gente que nem usa a rede.

         A questão central é: até que ponto o interesse primordial dos frequentadores de academia é a saúde? Ou será que a preocupação é com a estética e status social? Até onde o indivíduo está disposto a ir para alcançar a satisfação com seu corpo? Chega a ser irônico o fato de a maioria das pessoas procurar a academia por uma questão de saúde. No fim, muitas acabam se disvirtuando e seguindo o atalho mais fácil: o caminho dos suplementos e esteróides anabolizantes que, ingeridos de forma independente sem a instrução de um profissional especializado, podem afetar seriamente a saúde de quem os consome. Infelizmente, para as pessoas que se submetem a esse tipo de recurso, a preocupação com o bem-estar está longe de ser um empecilho. Busca-se o resultado, a todo custo, o mais rápido possível. Os homens idealizam um modelo de corpo musculoso e aparente, enquanto as mulheres sonham com um corpo magro e escultural. E assim, a obsessão pela beleza vai ultrapassando os limites da razão.

         Em uma sociedade que impõe rígidos padrões de beleza e repetidamente os relaciona com a representação de felicidade e sucesso, é até compreensível que muita gente acabe se deixando levar pelo caminho aparentemente mais rápido, porém ilusório, da busca pela boa aparência. A mídia, como motivadora desse ideal de perfeição, acaba sendo um instrumento de incentivo aos esforços cada vez mais desesperadores pela estética tão desejada. E assim, a saúde fica em segundo plano. O mesmo vale para o amor próprio.

 

*LONA é o nome do jornal-laboratório produzido de segunda a sexta-feira pelos alunos do Núcleo de Jornalismo da Universidade Positivo, disponibilizado na internet diariamente.

O portfolio de 

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